A reeleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos promete aumentar a competitividade no setor agrícola global, colocando o Brasil e os EUA em posições ainda mais acirradas. Especialistas apontam que as políticas protecionistas e os incentivos ao setor agrícola americano, características da administração Trump, podem pressionar os mercados internacionais e afetar diretamente as exportações brasileiras.
Protecionismo e Apoio à Agricultura nos EUA
Durante seu primeiro mandato, Trump adotou medidas que beneficiaram diretamente os produtores agrícolas americanos, como subsídios bilionários e acordos comerciais que priorizaram o escoamento da produção nacional. Esse padrão deve continuar em seu segundo mandato, com novas políticas para fortalecer a competitividade dos EUA no mercado global.
Uma das principais iniciativas esperadas é a ampliação de subsídios e incentivos fiscais para produtores americanos, especialmente no setor de soja, milho e trigo. Essas commodities já competem diretamente com os produtos brasileiros nos mercados asiático e europeu, e qualquer aumento na competitividade americana pode significar desafios maiores para o Brasil.
Impactos no Brasil
O Brasil, maior exportador mundial de soja e um dos líderes na produção de carne bovina e açúcar, depende de mercados como a China para manter sua balança comercial positiva. No entanto, com os EUA buscando ampliar sua fatia nas exportações para esses países, o Brasil pode enfrentar maior concorrência em preços e volumes.
Além disso, a possibilidade de acordos comerciais exclusivos entre os EUA e grandes compradores globais, como a China, pode reduzir a demanda por produtos brasileiros. Em 2019, por exemplo, o acordo da "Fase 1" entre EUA e China afetou as exportações brasileiras de soja, mesmo que temporariamente.
Pressão por Sustentabilidade
Outro fator importante é o aumento da pressão global por práticas agrícolas sustentáveis. Trump, em seu primeiro mandato, adotou uma postura mais flexível em relação às questões ambientais, o que gerou críticas, mas também facilitou o desenvolvimento agrícola nos EUA.
O Brasil, por outro lado, enfrenta desafios significativos na gestão de sua imagem internacional devido ao desmatamento na Amazônia e a outras questões ambientais. Essa imagem prejudicada pode ser um fator decisivo na escolha de mercados como a União Europeia, que busca fornecedores com menor impacto ambiental.
Respostas Possíveis do Brasil
Para enfrentar o aumento da concorrência, especialistas sugerem que o Brasil:
Invista em tecnologia e produtividade: Melhorar a eficiência da produção agrícola pode ajudar a reduzir custos e tornar os produtos mais competitivos no mercado internacional.
Fortaleça acordos comerciais: Expandir parcerias com mercados emergentes e consolidar tratados existentes pode diversificar os destinos das exportações brasileiras.
Aprimore práticas ambientais: Reduzir o desmatamento e investir em agricultura sustentável pode melhorar a imagem do Brasil no exterior e abrir novos mercados.
O Papel da China na Competição Brasil x EUA
A China, maior consumidora de soja e outras commodities, desempenha um papel crucial na disputa entre Brasil e EUA. Durante a guerra comercial entre os dois países, o Brasil se beneficiou da redução das exportações americanas para o mercado chinês. No entanto, a reaproximação entre Trump e a China pode inverter essa dinâmica.
Se Trump conseguir firmar novos acordos favoráveis aos produtores americanos, o Brasil pode perder parte de sua participação no mercado chinês, especialmente no setor de soja.
Cenário Global e Expectativas
A reeleição de Trump ocorre em um contexto de incertezas econômicas e mudanças climáticas que já impactam a produção agrícola global. A intensificação da concorrência entre Brasil e EUA deve refletir essas condições, colocando ainda mais pressão sobre ambos os países para se adaptarem e inovarem.
Para o Brasil, o momento exige estratégia e investimentos em áreas como logística, tecnologia e práticas sustentáveis. Do lado americano, Trump deve buscar consolidar o apoio de produtores locais, ampliando o impacto de suas políticas protecionistas no mercado internacional.
Em resumo, os próximos anos prometem ser desafiadores para o setor agrícola, com Brasil e EUA disputando cada vez mais intensamente o espaço no comércio global de alimentos e commodities.
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